15 de jun. de 2008

Vulnerável


Devo admitir que , num primeiro momento , a vulnerabilidade não parece algo bom de se cultivar como característica . Portanto , tornar-se vulnerável não é , aparentemente , um convite atraente . Certamente , é exatamente essa sensação que muitos de nós tentamos evitar a qualquer custo , seja nos defendendo nas relações que estabelecemos ao longo da vida , seja não nos permitindo vivenciar nossa afetividade . Mas estou eu aqui , agora , me sentindo vulnerável e inspirada o suficiente para fazer esse convite e justificá-lo ... Se considerarmos que você não está vulnerável , podemos acreditar que você está protegido – o que não é , nem de longe , o mesmo que sentir-se seguro , autoconfiante ou bem-resolvido consigo mesmo ! Costumamos nos proteger quando o amor que sentimos começa a se tornar profundo . Uma vez mergulhado na profundidade de seu coração , muitos sentimentos difíceis começam a borbulhar e emergir em sua mente e em sua alma , fazendo com que você se sinta desprotegido , ameaçado ... Diante dessas sensações , podemos reagir de duas maneiras diferentes : Primeira : Ou nos entregamos à vulnerabilidade e , assim , nos permitimos aprender com o medo , com a insegurança , com o receio da traição , do abandono e da rejeição ... E , inevitavelmente , crescemos e nos tornarmos fortes para lidarmos com essas questões presentes em qualquer relação de amor ... Segunda : Ou nos protegemos , lançamos mão de nossas armaduras e passamos a nos defender do outro , do amor , do relacionamento , da dor e das infinitas possibilidades de evolução . Protegidos , podemos usar uma de três estratégias diferentes : 1 - Acusamos o outro : nossas palavras , pensamentos e intenções culpam o outro por tudo o que estamos sentindo e não sabemos o que fazer . Criticamos as atitudes da pessoa amada e acreditamos que o responsável por estarmos nos sentindo feridos , magoados e ameaçados é ele ! 2 - Fazemos chantagem emocional : choramos , nos deprimimos , ficamos até doentes e assumimos o papel de vítima para , com isso , conseguirmos “ manipular ” o outro a fim de que ele mude seu jeito de ser – o que , para nós , é a causa de todo nosso sofrimento . 3 - Ficamos indiferentes : fingimos que nada que o outro faça é capaz de nos incomodar . Nada falamos , a nada reagimos e passamos a viver como se o outro não existisse . A cada pergunta do tipo “ o que você tem ? ” , respondemos com a maior cara de sonso : “ nada , por que ? ” . Tentamos enganar a nós mesmos , nos magoando e magoando o outro , como forma de vingança ! Nenhuma das três estratégias pode nos fazer evoluir , crescer ou enriquecer o relacionamento . Nenhuma das três escolhas pode fazer com que a relação ou a gente mesmo fique melhor . Só podemos transmutar esses sentimentos – que todos nós temos !!! – se nos tornarmos vulneráveis . Vai doer , não vai ser fácil , mas depois de uma conversa sem acusações , depois de uma auto-análise , que nos permite ver o quanto esses sentimentos estão dentro da gente e não no outro , podemos atingir um patamar acima na escala do amor e nos sentir genuinamente integrados com a pessoa que amamos . Convido você a um exercício : toda vez que se sentir magoado , irritado , ofendido , abandonado , inseguro ou desrespeitado , antes de acusar o outro , colocar-se no papel de vítima ou ficar indiferente , pare um instante e se pergunte : “do que é que eu estou com medo ? ”. As respostas estarão relacionadas com a sua história de vida , com o seu passado , com as suas feridas ... Porque você não quer ser contrariado ? Porque sua auto-estima está baixa e você tem medo de ser trocado ? Porque você é carente e quer que o outro acabe com este problema ? Seja qual for a sua resposta , acolha-se e conte para o outro , expondo seus sentimentos mais profundos , assumindo a sua responsabilidade pelos seus próprios medos . E , assim , muito provavelmente ele vai se sentir com um desejo imenso de ficar ao seu lado , de contribuir para que você não se sinta tão mal , com tanto medo ! Porque todos nós , indefinidamente , preferimos ser companheiros a sermos culpados ; preferimos ser parceiros de uma situação difícil a agredidos por algo que está incomodando o outro ! Arrisque e certifique-se dos resultados ! Permita-se ficar vulnerável e esteja preparado para se surpreender com o que você pode sentir , tanto pelo outro , quanto por si mesmo e , sobretudo , diante da oportunidade de amar !

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